quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Soneto Infância Amada

Da sinfonia loura que convém
No cintilar dos olhos, beija-flor
Descansa as memórias de um amor
Reside o passado que me sustém

Na loucura da pele, lisa, fina
Dos seus traços formosos, Deusa, cor
Me fizestes culpado pela dor
Que outrora era força da fascina

O futuro é constante, quem o tem?
Sabe lá lhe ter, bela, para mim
Velho amor, novo tempo, amor são

Bastarão versos, toques, novo além
Viveremos das nuvens, querubim
No teu céu, ó Divino coração


Escrito por Artur Damasceno em 22/09/2006

Soneto Esperança

O que deveras ser no outro dia
Quando a tristeza à alegria der
Refúgio que ao tempo for mister
Deixando assim a vã monotonia

Passado o tempo da voracidade
No dissipado golpe do martírio
Que nem sob a égide de um lírio
Perpetuava a tal felicidade

Sonhando vive o nobre coração
Que espera por si só se ver curado
E inundado do que nunca ousou

E vista extensa dor que suportou
Anseia que as seqüelas do passado
Não pintem telas de nova estação


Escrito por Artur Damasceno em 12/06/2006

Soneto do Meu Eu Mesmo

Se tanto, por pouco, um quase tenho
Em quase tudo, me tenho, portanto
Em todo tempo, me traço, me canto
E falta pouco, de tudo: empenho

Um pouco faço; de tudo, contenho
Em pouco tempo, me acho, me espanto
E perco tudo, me perco, enquanto
Me faço novo; de tudo, mantenho

De tudo tento, contento, em parte
Sorriso breve, mas dura, um pouco
E o que dura, de certo, é arte

Mas o que resta, em parte, é duro
Fruto maduro, tão verde, sou louco
Louco e tanto, não tento, sou puro


Escrito por Artur Damasceno em 07/09/2006

Soneto Esse Verbo Gostar

Gosto do gosto gostar, goste ou não
Gosto que gosta bater, bate bem
Trato infeliz social, meu também
Quando não gosto, não sou da paixão

Sofro do gosto gostar, o meu dom
Dom que faz bem quando tem, quando não
Fere com foice feroz coração
Música infame e infantil, mesmo tom

Nunca pretendo mudar, e nem dá
Gosto de ser como sou, ser assim
Ser como o gosto cruel, se será

E se mudar não serei quem eu sou
Guardo meu dom tanto hostil e me vou
Na espera do gosto gostar só de mim


Escrito por Artur Damasceno em 28/12/2007

Soneto Queira Querer

Queira-me bem, amor; queira-me mal também
Queira-me quando for; queira-me bem amor
Queira-me ao bramir, queira-me quando há dor
Queira querer a mim; queira amor, meu bem

Queira o que já é teu e o que dei de mim
Queira a mim, enfim, guarde meu coração
Queira meu bem querer, ouça minha canção
Queira meu tom, a voz, ame a mim assim

Queira ficar; partir, se assim tiver de ser
Queira partir; voltar, se não mais suportar
Queira pedir; razão... Aprender a viver

E quando for o fim, queira saber seguir
Olhar o futuro vão, queira querer sonhar
Queira não mais chorar, quando quiser sorrir


Escrito por Artur Damasceno em 29/01/2009